“Você tem opção. TV é concessão pública!”
Juliana Gonçalves
A frase acima tão verdadeira e na prática pouco usada, para muitos já esbarra na questão: concessão pública x propriedade privada. Para além da discussão órgãos de imprensa privados que atuam na esfera pública e são legitimados ou não por ela, existem situações inovadoras. Quem sintonizou a TV no canal 9 de São Paulo (Rede TV), entre os dias 12 e 20, obteve uma agradável surpresa. Às 16 horas era exibido Direito de Resposta com uma hora de duração e apresentação de Anelis Assumpção, cedida pela TV Cultura.
O programa foi idealizado por seis Ongs defensoras dos direitos humanos em conjunto com o Ministério Público Federal. Essa mesma parceria conseguiu retirar do ar o programa Tarde Quente de João Kleber e, em seu lugar, transmitir Direito que já em sua vinheta de abertura traz a seguinte frase: “o sensacionalismo da mídia é muito feio!”.
Temas distintos foram abordados a cada dia da semana; dois convidados, capacitados a falar sobre o assunto, eram interpelados por Anelis de forma simples e esclarecedora. Afora as duas pessoas em estúdio, outras elucidações eram feitas por diferentes autoridades através de depoimentos gravados. Esse foi o caso da professora de Direitos Humanos Flávia Piosevan. Com formato simples e dinâmico, o conteúdo oscilante entre o didático e o profundo, permitia ao telespectador um tempo para raciocinar e assim também formar sua opinião.
O quadro tele-visão enlaçava a questão proposta com a abordagem dada sobre ela na televisão. Isso ocorria através de opiniões de gente do meio, como por exemplo, o Presidente da Rádiobrás, e também jornalista, Eugênio Bucci.
Trechos de documentários de Ongs e instituições como Viva Rio, Ação Educativa, Consulado da mulher etc., eram colocados no ar ao final de cada transmissão. Assim como vídeos de produtoras pequenas, tais como Joinha e Miração Filmes. Desta forma o programa valorizava a produção independente que normalmente não tem espaço na TV aberta.
Direito de Resposta tem muito do que se gabar, foi uma iniciativa inédita, o resultado de uma luta que teve início em novembro de 2005. A Rede TV, após muitos tramites legais e finalmente um acordo, se comprometeu a pagar R$ 400 mil ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, e a exibir 30 programas produzidos pelas Ongs.
Tarde quente de João Kleber foi banido por disseminar uma imagem humilhante e estereotipada de alguns gêneros da sociedade, principalmente dos homossexuais. Direito de Resposta foi transmitido em seu lugar desde 12 de dezembro, e trouxe pela primeira vez sentido às palavras concessão pública. Normalmente quando a tela azul surgia e letras brancas eram usadas para esclarecer que a transmissão a seguir era de origem independente, o telespectador se preparava para os anúncios do Polishop e todas as maravilhosas, surpreendentes e inúteis quinquilharias que iriam desfilar na telinha. Ou ainda, mais um incrível broche cravejado manualmente pelas freiras tibetanas do Medalhão Persa.
É muito bom saber que não é só de propagandas que sobrevivem as concessões públicas. Infelizmente o espaço na TV é caro, e dificilmente será cedido de bom grado pelos santos, marinhos, macedos e tantos outros.
Uma chama se ascendeu com o programa Direito de Resposta, foi bom e estimulante enquanto durou, agora cabem as ongs, aos movimentos populares e a todos os seres pensantes com o controle-remoto nas mãos não permitirem que a Resposta pare por aí.
3 Comments:
Mais uma vez a esfera pública e privada se confundem, porém o diferencial encontra-se na possibilidade de usar o dinheiro de uma empresa privada para veicular assuntos de interesse público com qualidade.
Quem sabe não seja o início de uma transformação do telespectador adorador de programas trashs para um consciente crítico de televisão que utiliza o controle remoto?
Vamos aguardar os próximos capítulos...
20 janeiro, 2006 11:38
Lindo, Jú !
Achei bem estruturado. No começo pensei que vc não fosse abordar os motivos pelos quais o programa Tarde quente tinha sido extinto; e fosse ficar só elogiando o Direito de Resposta,mas você foi concisa sem ser simplista e esclarecedora sem ser ufanista.
Gostei, a mensagem foi passada muito bem, e serve sem dúvida nenhuma para 1 minuto, no mínimo, de reflexão.
Parabéns, Ju!
20 janeiro, 2006 12:03
O brasileiro tem que ser mais crítico!!!pra um monte de gente que eu conheço a programação da tv, principalmente a da rede globo ta uma maravilha!!!
05 dezembro, 2007 12:33
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